Tríduo da Anunciação

Tríduo da Anunciação

Roteiro para todos os dias:

1- Oração de acolhida do Santuário Peregrino da Anunciação do Senhor;
2- Reza do Rosário da Anunciação;
3- Oração e canto de louvor;
4- Súplica pelo batismo no Espírito Santo (orar uns pelos outros);
5- Orar pelos pedidos apresentados;

6- Meditação da Palavra:
1º dia: A Anunciação
2º dia: A Virgindade Perpétua
3º dia: Visitação e Magnificat

7- Reza-se uma Salve Rainha;
8- Oração de Nossa Senhora da Anunciação;
9- Saudação da Paz com cânticos;
10- Oração de despedida do Santuário Peregrino da Anunciação do Senhor;
11- Encerramento com o sinal da cruz.

TRÍDUO DA ANUNCIAÇÃO DO SENHOR   (mês da Anunciação – março)

1- Oração de acolhida do Santuário Peregrino da Anunciação do Senhor:
Santíssima Virgem Maria, Rainha e mãe da Igreja e das famílias cristãs, com grande júbilo te agradecemos pela sua presença no meio de nós. Agradecemos a Deus por nos ter dado uma mãe tão caridosa, amorosa e incansável na intercessão pela salvação dos filhos teus.
Eu te apresento, mãe querida, todas as pessoas presentes, familiares e todos que pediram vossa intercessão. Abençoai, protegei, defendei, guardai-nos como coisa Vossa, sobretudo, concedei-nos a graça de vivermos sempre seguindo os ensinamentos de Teu filho Jesus, evitando o pecado.
Dai-nos a fé que tivestes na Palavra de Deus e o amor que nutristes pelo Vosso Filho Jesus e por todos aqueles pelos quais Ele morreu na cruz.
Nossa Senhora da Anunciação, rogai por nós e dai-nos a graça de anunciar Jesus, Senhor e Salvador de nossas Vidas. Amém.

2- ROSÁRIO DA ANUNCIAÇÃO DO SENHOR
Pelo sinal da Santa Cruz, livrai-nos Deus, nosso Senhor dos nossos inimigos. Em nome do Pai, do filho e do Espírito Santo, Amém!

Oferecimento: Senhor Jesus, oferecemos este rosário que vamos rezar nos comprometendo com o anúncio da Boa Nova.  Concedei-nos pela intercessão de Nossa Senhora da Anunciação e por São Gabriel Arcanjo, os meios para bem rezá-lo e os Dons necessários do Vosso Espírito para que possamos honrar o compromisso de anunciá-lo.    Oferecemos em desagravo às heresias e os pecados cometidos contra a Santíssima Eucaristia, a Palavra de Deus, a Virgem Maria e a Igreja.  Pedimos pelo aumento e Santificação dos Anunciadores do Reino de Deus, pela unidade da Igreja, pelas intenções do Santo Padre o Papa, pelo Clero, pelos membros da Comunidade Frater Kerigma, pelas Almas do purgatório, pelos doentes, agonizantes, famintos, desempregados, excluídos, pelas Famílias e por todos aqueles que pediram nossas orações particulares.      

Reza-se o Credo e um Pai nosso…      

Oração do Ângelus:

O Anjo do Senhor anunciou a Maria e Ela concebeu do Espírito Santo.  Ave Maria cheia…
Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a Vossa Palavra. Ave Maria cheia…
E o Verbo Divino se fez Carne e habitou entre nós.  Ave Maria cheia…
Rogai por nós Santa Mãe de Deus para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amém!   

Nas contas grandes: Oh Deus que criastes todas as coisas, ofereço-me a Ti como instrumento e meio para Anunciar o Reino do Teu Filho Jesus, Senhor e Salvador de nossas vidas.
Nas contas pequenas: Pelo sim de Maria a Salvação entrou no mundo, Eu Anunciarei Jesus.
Ao final de cada dezena reza-se: Jesus eu creio em Vós; entrego-me a Ti e caminho sob a Vossa Divina Graça!

Contemplação dos Mistérios Missionários: 

1º Mistério: Deus envia Seu anjo Gabriel a uma Virgem de nome Maria. (Lc 1,26-27);
2º Mistério: O anjo Gabriel saúda Maria: ”Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo… e Maria pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação” (Lc 1,28-29);
3º Mistério: O anjo Gabriel disse-lhe: eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus, Filho de Deus. O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com sua sombra (Lc 1,31-35);
4º Mistério: O sim de Maria – o fiat: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a Tua Palavra” (Lc 1,38);

5º Mistério: A divisão dos tempos: o marco que dividiu a humanidade em antes e depois. Maria assume sua missão de gestar a Salvação para a humanidade, o novo Éden, o Filho de Deus, Jesus, Senhor e Salvador de nossas vidas (Lc 1,39-43). 

Oração Final: Senhor, nós Vos suplicamos que infundais em nossas almas a Vossa Graça, para que nós que, pela anunciação do Anjo, conhecemos a Encarnação de Jesus Cristo, Vosso Filho, pela sua Paixão e morte de Cruz, sejamos conduzidos à Glória da Ressurreição. Pelo mesmo Jesus Cristo, Vosso Filho, que é Deus convosco na Unidade do Espírito Santo. Amém!  

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém!

3- Oração e Canto de Louvor:

Senhor Jesus, assim como Te entregaste nas mãos do Pai, eu também venho agora a Ti me entregar. Entrego-Te todo meu ser, corpo e alma, consagrando-os a Ti, abandonando-me totalmente em Tuas mãos, e nada quero em mim reter.
Tudo é Teu: o meu passado, presente e futuro; o que me deste, meus queridos, minha família.
Confio a Ti o nosso sustento espiritual e material, pois creio na Tua providência divina.
As minhas preocupações, o meu fardo, também os deposito diante de Ti.
Agradeço-Te por tudo e aceito tudo que assim me permitires passar, pois creio fortemente que Tu me amas e confio incondicionalmente no Teu amor por mim!   Amém!

4- Súplica pelo batismo no Espírito Santo (orar uns pelos outros):

Invocação ao Espírito Santo: Vinde  Espírito Santo enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso amor.  Enviai Senhor, o Vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra.
Oremos:Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas e gozemos sempre da Sua consolação.  Por nosso Senhor Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo.   Amém!  

5- Orar pelos pedidos apresentados

6- Meditação da Palavra

7- Salve Rainha

8- Oração de Nossa Senhora da Anunciação
Todas as gerações vos proclamem, bem-aventurada! Ó Maria, crestes na mensagem divina e em vós se cumpriram grandes coisas, como vos fora anunciado. Maria eu vos louvo! Crestes na encarnação do Filho de Deus no vosso seio virginal e vos tornastes Mãe de Deus. Que possamos comunicar com a nossa vida a mensagem de Jesus que é o Caminho, a Verdade e a Vida da humanidade. Nossa Senhora da Anunciação rogai por nós e dai-nos a graça de anunciar Jesus, Senhor e Salvador de nossas vidas!

9- Saudação da Paz com cânticos

10- Oração de despedida do Santuário Peregrino da Anunciação do Senhor:
Santíssima Virgem Maria, te agradecemos pela visita que nos fizeste, por todas as graças alcançadas e pedimos, que estejamos sempre dispostos como teus devotos  à anunciar a Verdade Salvífica, na certeza de que tua graça permanecerá conosco, ajudando-nos a viver segundo os ensinamentos de teu filho JESUS CRISTO. Nossa Senhora da Anunciação, rogai por nós e dai-nos a graça de anunciar Jesus, Senhor e Salvador de nossas Vidas. Amém!

11- Encerramento com sinal da cruz.

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1º Dia do tríduo:

A Anunciação

Antes de conceber Jesus na sua carne, Maria O concebeu pela fé. Na Anunciação, Maria ofereceu a Deus o voluntário Dom da sua submissão. Assim foi mostrada a relação de amor esponsal entre Deus e a criatura humana.

Maria tinha fé expressa na Encarnação futura segundo a profecia de Isaias (Is.7,13-15). A sua fé em Deus precede a Anunciação, mas é realizada pela fé na pregação do anjo.

Toda obra salvífica tem Deus como autor, mas este a prepara e realiza pela mediação de alguns escolhidos, não para receber privilégios privados, particulares, mas para serem canais da ação de Deus no meio dos homens.

Podemos observar os vários anúncios da parte de Deus, encontrados no Antigo Testamento, nos quais Ele chamou “mediadores”, que recebiam graças extraordinárias sempre compatíveis com a missão que deveriam desempenhar para benefício de um povo (Jacó, Gedeão, Jeremias). Estes homens manifestam assim anúncios de vocações, que continham algum aspecto do chamado a Maria, mas não todos os aspectos, porque seu chamado foi essencialíssimo, superando todos os anteriores.

Deus escolhe homens simples para grandiosas missões.

O relato da Anunciação à Maria deve ser situado em continuidade com a história do plano salvífico de Deus.

Veja o evangelho de Lucas 1,28b-30.  Tal saudação traduz o convite a alegrar-se pela escolha divina, de si mesma e de seu povo, o povo de Deus.

Os Filhos de Sião são aqueles restos de Israel, povo humilde e humilhado, mas renovados pelo Amor de Deus. Segundo documentos do Magistério da Igreja, o termo “Filho de Sião” realmente é aplicável a Maria: O Salmo 86 relata que Sião se transformará em “mãe de todas as nações”, e Maria realmente se transformou em “Mãe dos Filhos de Deus”.

A expressão “Cheia de Graça” substitui o nome de Maria, indica a missão e unção recebida da parte de Deus: o título anuncia o papel de Maria na história da Salvação, mas indica que Deus já fez de tal maneira a dispô-la para este papel. Preparada com a plenitude da Graça para a missão específica na Salvação trazida por Jesus Cristo, ela é a imagem da atuação criadora de Deus, santa por obra divina, e não por simples esforço humano. Maria não sabia, no momento da Anunciação, todas as modalidades da Obra Redentora.

No Antigo Testamento, várias mulheres estéreis deram milagrosamente à luz seus filhos predestinados (que tinham um papel na história da salvação – Gn.18,11; Jz.13,2-3; Gn 30,22-23.

Quanto a Nossa Senhora, o milagre foi singular, ultrapassando todas as outras manifestações milagrosas do AT, a maternidade e a virgindade consagrada são duas vocações distintas, que Deus conciliou em Maria, não em duas fases, mas simultaneamente e perpetuamente.  Maria, cuja virgindade se tornou eloquente na intervenção onipotente de Deus na história do homem é assim, modelo e intercessora das duas vocações: o matrimônio e a virgindade consagrada. “Eis aqui a serva do Senhor”: Maria assume uma posição de PERTENCER ao Senhor e de se colocar debaixo da Sua proteção. Ser a Serva de Deus significa sempre ter um bom Senhor, jamais servidão no sentido negativo. Se Maria é serva humilde, então lhe resta apenas abrir-se à ação da Palavra de Deus, como uma israelita fiel, em nome do povo. Maria reconhece a Deus como autor de toda a obra salvadora que Ele quer realizar nela, e aceita na fé colaborar, ser mediadora na intervenção divina, como foram no AT Abraão e Moisés, e as mulheres chamadas a libertar o povo.

A Anunciação do anjo não se dirige apenas à Maria, mas à humanidade e à Igreja, por intermédio de Maria.  Dizendo “sim” à maternidade, Maria disse à obra de seu Filho.  Maria, por seu Sim maternal, comprometeu realmente a sorte da humanidade. Essa obra salvadora começa a realizar-se em Maria, por sua livre aceitação obediente por meio da fé. É Deus quem será o autor da obra, mas atuará nela. Deus é o único autor na obra salvífica. Na concepção de Jesus, Deus quer a livre aceitação de Maria, para que se veja que cada homem fará sua Salvação por um ato de aceitação livre e pessoal.

A fé de Maria é digna de admiração e a total disponibilidade e esquecimento de si que percebemos em Maria. Maria tem consciência da vontade de Deus e se mantém na simplicidade. Deus é toda a sua riqueza e posse. Ela está totalmente a serviço da Palavra Criadora de Deus. A fé de Maria é mais preciosa do que sua maternidade, que é fruto da fé. Por isso sua fé teve de crescer em meio à escuridão, junto com a experiência do crescimento do Filho, e à luz da Palavra.

2º dia do Tríduo:

A virgindade perpétua

 Desde as primeiras formulações da fé, a Igreja confessou que Jesus foi concebido exclusivamente pelo poder do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, afirmando também o aspecto corporal deste evento. Os relatos evangélicos explicam a Conceição Virginal como uma obra divina que ultrapassa toda compreensão e todas as possibilidades humanas.

Os primeiros intérpretes da Palavra viram na Conceição Virginal o sinal de que verdadeiramente o FILHO DE DEUS veio a uma humanidade como a nossa. E o dogma realmente nos faz compreender que Maria é verdadeiramente Mãe de Deus, visto ser Mãe do Filho eterno de Deus feito homem sem deixar de ser Deus.  Além disso, faz-nos compreender a Maternidade espiritual de Maria, que se estende a todos na humanidade, que Jesus veio salvar.

O DOGMA – “Se alguém não confessa, de acordo com os santos Padres, que a Santa e sempre Virgem e Imaculada Maria é própria e verdadeiramente Mãe de Deus, como queira, que própria e verdadeiramente concebeu por obra do Espírito Santo, o mesmo Deus Verbo que nasceu do Pai antes de todos os séculos, e que deu à luz sem corrupção permanecendo sua virgindade indissolúvel depois do parto, seja condenado”.  (Sínodo Romano Lateranense, sob Martinho 1-649)

 

 A SAGRADA ESCRITURA nos revela (CIC 497-498) que a profecia de Isaias 7,14 traduzida literalmente do hebraico:” Eis a jovem donzela (alma) conceberá e dará à luz um filho, que ela chamará Emanuel”. Os Evangelhos afirmam que Maria Virgem concebeu o Filho de Deus sem a intervenção de semente humana; Mateus 1,18-20; Lucas 1,26-38.  Em Lucas 2,48 José é dito “pai de Jesus” Lucas afirma (Lc 3,22) que José era o Pai adotivo de Jesus. A Divina Providência quis que Maria fosse verdadeiramente casada com José, homem justo, a fim de que seu lar tivesse a tutela que o homem pode e deve dar à mãe e ao filho.

MARIA SEMPRE VIRGEM – no ano de 649, o Concílio regional de Latrão declarou: “Maria, a santa Mãe de Deus e imaculada Virgem concebeu do Espírito Santo do próprio Deus Verbo; deu à luz sem perder a sua integridade e também depois, antes do parto, no parto e perpetuamente depois do parto.”

O aprofundamento da sua fé na maternidade virginal levou a Igreja a confessar a virgindade real e perpétua de Maria, mesmo no parto do Filho de Deus feito homem. Com efeito, o nascimento de Cristo “não lhe violou, mas sagrou a integridade virginal” da sua mãe. A liturgia da Igreja celebra Maria como a Aeiparthenos, “sempre virgem”.

A VIRGINDADE NO PARTO – Lemos em João 1,12 “A todos os que O receberam, deu o poder de se tornarem filhos de Deus, aos que creem em Seu nome, Ele (o Verbo) que não nasceu do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas nasceu de Deus.”

Lemos no evangelho de Lucas 2, 7: “Maria gerou seu filho primogênito, envolveu-O em panos e deitou-O no presépio”. Esses dizeres insinuam a ausência das dores e da prostração que costumam acompanhar todo parto. A Tradição afirma que Maria deu à luz sem dor, intencionando, assim, professar a maternidade virginal de Maria.  Em Lucas 2,23 que se aplica a Jesus o texto de Êxodo 13, 2, conforme o qual Cristo se dá: “o filho que abre o seio materno”. Esta é uma expressão clássica da Lei de Moisés para designar o primeiro (ou também… o único) filho. Tais palavras não têm em vista um fenômeno fisiológico, mas apenas a posição jurídica do filho na família. Por conseguinte, a passagem de Lucas 2,23 não contradiz o nascimento virginal de Jesus.

A fé da Igreja é firmada em numerosos testemunhos:

– São Leão Magno Papa: “O Filho de Deus concebido do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, que O deu à luz, conservando a sua virgindade (salva virginitate), como O concebeu.”

–  São Gregório Magno Papa: “O corpo do Senhor, após a ressurreição, entrou onde se achavam os discípulos, passando por portas fechadas, esse mesmo corpo que, ao nascer, saiu do seio fechado, manifestando-se aos olhos dos homens. Não é para admirar que o Senhor, ressuscitado para viver eternamente, tenha atravessado portas fechadas, visto que, para morrer, Ele veio a nós através do seio fechado da Virgem”.

O parto virginal é fato singular e transcendental que há de ser preservado com respeito e reverência.

VIRGINDADE APÓS PARTO – O FILHO ÚNICO – Lemos em Mc 6,3; Mt 13,55; Mc 3,31-35; Mt 12,46-50; Lc 8,19-21; Jo 2,12;7,21; At 1,14; Gl 1,19; 1Cor 9,5.  A Igreja sempre entendeu que essas passagens não designam outros filhos da Virgem Maria: com efeito, Tiago e José, irmãos de Jesus (Mt 13,55), são os filhos de uma Maria discípula de Cristo que significativamente é designada como “a outra Maria” (Mt.28,1). Trata-se de parentes próximos de Jesus, consoante uma expressão do Antigo Testamento.

Jesus é o Filho único de Maria. Mas a maternidade espiritual de Maria estende-se a todos os homens que Ele veio salvar. “Ela engendrou seu Filho, do qual Deus fez o primogênito entre uma multidão de irmãos (Rm 8,29), isto é, entre os fiéis, em cujo nascimento e educação Maria coopera com amor materno”.

Em algumas passagens bíblicas como exemplo Lucas 2,41-52;  Mateus 27,56; João 19,25 verificamos que a língua aramaica, que os judeus falavam no tempo de Jesus e que os evangelistas supõem, era uma língua pobre de vocábulos. A palavra aramaica e hebraica “ah” podia significar não somente os filhos dos mesmos genitores, mas também os primos e até parentes mais distantes. Abraão disse a seu sobrinho Lot, filho do seu irmão: “Somos irmãos”  Gênesis 29,12-15.

Lemos em Mateus 1,25: “José não conheceu Maria (não teve relações carnais com Maria) até que ela desse à luz um filho (Jesus)”. Isso não significa que depois de ter dado à luz, Maria tenha tido relações com José. A expressão “até que” corresponde ao grego “heos hou” e ao hebraico “ad ki”. Esta partícula na Escritura ocorre para designar apenas o que se deu (ou não se deu) no passado, sem indicação do que havia de acontecer no futuro. Ainda hoje, na vida cotidiana, recorremos a semelhante modo de falar quando dizemos, por exemplo: “Tal homem morreu antes de ter realizado os seus planos” Poderia alguém concluir que, depois da morte, o defunto tenha executado os seus desígnios?

Por fim, o termo primogênito não significa que Maria tenha tido outros filhos após Ele. Em hebraico “bekor”, primogênito, podia designar “o bem-amado”.

MISTÉRIO NO SEU DESÍGNIO SALVÍFICO – Falar da Virgindade de Maria significa entrar no mistério espiritual de sua relação com Deus. Se a Virgem Maria teve uma relação verdadeiramente privilegiada com Deus, todos os acontecimentos de sua vida foram marcados pelo extraordinário. A Virgindade de Maria manifesta a iniciativa absoluta de Deus na Encarnação. Assim é que, no Evangelho em Mateus 1,23, cita a profecia de Isaías 7,14: “Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho”; e Lucas 1,35 confirma:” O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te envolverá com a Sua sombra”. Eis um extrato do texto promulgado pela Igreja no Concílio de Trento, que nos convida a dobrar-nos diante das imensas obras do Criador:

 “Se a concepção do Salvador está acima de todas as leis da natureza, seu nascimento não lhe é inferior. Seu nascimento é divino, o que é absolutamente prodigioso, o que ultrapassa todo pensamento, toda palavra é que Ele nasceu de sua Mãe sem acarretar a perda da virgindade, do mesmo modo que, mais tarde, Ele saiu do túmulo sem quebrar a rocha que o mantinha fechado, da mesma maneira que Ele entrou na casa com as portas fechadas onde estavam os discípulos…                   

Assim é a Encarnação de Deus em Maria, sem intervenção do homem!

Assim é a natividade de Jesus, que preservou a integridade de Maria, do mesmo modo como, na ressurreição, Cristo saiu do túmulo pelo único poder do seu Amor.  O extraordinário torna-se possível, o sobrenatural torna-se natural, quando Deus intervém para realizar Seu desejo de salvação”.                                    

Da parte de Nossa Senhora, Sua maternidade virginal é sinal de Sua fé, da Sua doação total à vontade de Deus; pela fé Maria submeteu-se inteiramente ao poder do altíssimo, e viu acontecer em Sua vida o extraordinário, o impossível.

O dom total de si, da Sua pessoa, a serviço dos desígnios salvíficos do Altíssimo.

Essa atitude esponsal, de abertura total à pessoa de Cristo a toda a Sua obra e à toda a sua missão, une em si, de maneira perfeita, o amor próprio da virgindade e o amor característico da maternidade, num só amor. Ao mesmo tempo, Virgem e Mãe, Maria é a forma mais perfeita da Igreja. CIC 507.

3º dia do Tríduo

A visitação e o Magnificat 

 Na visitação, Isabel, a prima de Maria, exulta de alegria no Espírito Santo, e proclama quão bendita é Maria, e quão bendito é o fruto do seu ventre. De fato, Maria leva em seu ventre a maior bênção que Deus dará ao mundo. E Maria, sob a inspiração do mesmo Espírito Santo que inspirou Isabel, vai louvar a Deus, que fez nela maravilhas.

Mas Ela não vai evocar no Magnificat somente o grande acontecimento que é a maternidade divina, mas todas as maravilhas que Deus realizará através dela, em todas as gerações que virão. A presteza de Maria, em visitar Isabel é física, cronológica, pois realmente o termo hebraico significa “apressadamente”. Mas tal diligência e disponibilidade não nascem de um simples desejo humano de ajudar a prima numa necessidade, nem de dúvidas acerca do que Deus lhe tinha revelado pelo anjo, mas de uma grande disponibilidade de espírito, consequência da alegria que lhe proporcionou sua vocação, de esperança que transborda de Sua alma.  Maria não foi para checar o sinal, mas para contemplá-lo. Só que, chegando lá, Ela própria criou um sinal:” …a criança estremeceu no seu seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo”.

A saudação de Maria provoca o sinal preparado por Deus: o movimento natural da criança no seio de sua mãe converte-se em sinal de grande alegria e simpatia, suscitado pelo ENCONTRO. E a paz que Maria anuncia irrompe sobre Isabel e sobre a vida que se move no seio da anciã. E Maria, então, contempla o sinal de Deus: a vida que leva em seu ventre é portadora de alegria escatológica e de paz.

Verifica-se que Maria evangeliza com a Sua presença como vemos no encontro com  Isabel quando acontece que Ela  fica cheia do Espírito Santo e profetiza. O Espírito de profecia acontece com Ela numa antecipação do que iria acontecer em Pentecostes algum tempo depois: a vinda do Espírito Santo sobre os discípulos.  Sobre Isabel repousa a paz de Maria. Proclama que Deus abençoou o seio de Maria tornando-o prodigiosamente fecundo, reconhece que Maria é autêntica Mãe do Messias, e profetiza a bem-aventurança que Jesus vai proclamar futuramente Lc 11,28. Sobre aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a observam (…feliz és tu que acreditastes…).

O Magnificat, que desde o século I a Igreja reza este cântico na sua liturgia, proclamando por um lado a história da Salvação realizada em Israel e por outro a obra efetuada por Deus através da maternidade de Maria. Percebe-se assim, que a Comunidade cristã, desde o início, já vê Maria como modelo e figura da Igreja, reconhecendo que verá acontecer em si o que ocorreu a Maria, tanto que Santo Irineu diz: “Maria, cheia de alegria, exclama profetizando à Igreja: minha alma engrandece ao Senhor”. Em seu cântico, Maria representa Israel, para quem se cumpriram as promessas da salvação. Maria recolhe os anseios de todo o AT, que se alegre pela Salvação futura. Em seu louvor está incluída a atitude de todos aqueles que experimentaram a satisfação pela intervenção de Deus ao mandar o Messias. No louvor de Maria está condensado o louvor da Igreja.

O Magnificat não pode ser compreendido sem Maria, tampouco sem a Igreja, pois ele não expressa apenas os sentimentos de Maria, mas também os sentimentos da Comunidade cristã que experimentou a vitória de Deus sobre a morte de Jesus na Ressurreição. A fé da Igreja se manifesta neste cântico, saído da fé profunda de Maria na VISITAÇÃO. Aquilo que desde a Anunciação permanecia oculto na profundidade da obediência à fé, manifesta-se agora claramente, como uma chama vivificante do Espírito. As palavras usadas por Maria no umbral da casa de Isabel, que nos fazem vislumbrar sua experiência pessoal e êxtase de Seu coração, constituem uma inspirada profissão de fé, na qual a resposta à palavra da Revelação se expressa com a elevação espiritual e poética de todo o Seu ser a Deus.

Mas o Magnificat propõe à Igreja a melhor resposta humana que se pode dar à proposta de Deus. Ao identificarmo-nos com os sentimentos de Maria, chegamos à verdade sobre Deus, sobre nós, sobre os outros, sobre o mundo… Entendemos que a Verdade de Deus (a única verdade) não é uma Verdade teórica, mas histórica, uma Verdade que acontece, que se realiza e nos realiza. Maria é a primeira testemunha da maravilhosa Verdade sobre Deus, que se realizará plenamente mediante o que fez e ensinou Seu Filho e definitivamente, mediante Sua Cruz e Ressurreição.

Maria é a primeira testemunha da verdade sobre o homem, porque anuncia o amor misericordioso de Deus por ele. O Deus do Magnificat, o verdadeiro Deus, se derrama totalmente sobre o homem, especialmente sobre os mais necessitados, tanto física, como psicologicamente e espiritualmente. O Magnificat é assim o modelo acabado de oração e de vida no Espírito.

By | 2022-12-20T19:01:09-03:00 novembro 9th, 2022|Categories: Devocionário da Anunciação do Senhor|0 Comments

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